Há um discurso recorrente, tanto da mídia corporativa, quanto dos que assinaram e concederam com a reconfiguração econômica do país expressa na “ponte para o futuro”, em preservar Paulo Guedes. Mesmo simpático à regimes autoritários como os de Pinochet e tendo mostrado sua face na fatídica reunião ministerial, segue poupado. Chegou a afirmar que possui estilo semelhante ao do Presidente. A lógica é que Bolsonaro seria “bad for business”. Os “business” são exatamente os “negócios” planejados por Guedes. Assim como há um esforço nacional para imputar a Bolsonaro, por ação e/ou omissão, responsabilidade pelas milhares de mortes ao longo da pandemia, deve-se desnudar sua outra face. A que está à frente do Ministério da Economia.
Nunca os efeitos do neoliberalismo estiveram tão visíveis à sociedade. Invocando a literatura universal, se Guedes é Dorian Gray, Bolsonaro é nada menos que seu reflexo putrefato. Enquanto, Bolsonaro advoga o uso de medicamentos sem efeito comprovado, gera aglomeração e dificulta o processo de vacinação; Guedes defende uma investida inédita de contração fiscal materializada na “PEC da Morte”. A Emenda Constitucional n.º 95 impõe teto, por inacreditáveis 20 anos, à ampliação em gastos e investimentos do governo, salvo, claro, despesas financeiras. A consequência de movimentos como esse é o estrangulamento de programas sociais como o farmácia popular, bolsa família, sucateamento do ensino público e deterioração da infraestrutura do país. Significa a precarização, senão, a negação de direitos fundamentais previstos na constituição cidadã. São políticas de Guedes que fazem do Brasil um país em que:
– 52 milhões de brasileiros vivem na pobreza;
– 13 milhões na extrema pobreza;
– metade dos brasileiros acima de 25 anos não concluiu a educação básica;
– 33% dos brasileiros não terminaram o ensino médio;
– 44 mil brasileiros são mortos todos os anos;
– 100 milhões de brasileiros não contam com sistema de esgoto;
– a posição em mortalidade infantil no ranking de nações é a 105º;
– é o sétimo mais desigual do planeta;
– os 5% mais ricos se locupletam de 95% da renda nacional;
– a diferença na longevidade das pessoas nas grandes cidades pode atingir 24 anos dependendo do bairro onde nasceram.
Bolsonaro e Paulo Guedes se completam. São uno e assim devem ser denunciados. Um reflete o outro. Poderiam ser personagens dos romances de Oscar Wilde. Infelizmente são concretos, reais e conduzem a “necropolítica” brasileira.
PS. Para não perder o hábito. Quando foi a última vez que Lula criticou o teto dos gastos?