O tema da corrupção é instrumentalizado no Brasil há décadas. Sempre foi empacotado para justificar derrubadas de governos e a reorientação geopolítica do país atendendo a interesses internacionais. Para ficarmos nos melhores arquétipos, podemos falar de Getúlio, João Goulart, Lula (mensalão) e Dilma Rousseff. Ciro traduz o fenômeno de forma magistral:
Trata-se da moral a serviço da mais pusilânime imoralidade.
Trago o preâmbulo porque é uma obviedade que surgirão críticas ferrenhas sobre o movimento de Ciro e seu partido – PDT. Aliás, já estão surgindo. Em tese, haveria um impedimento de caráter ético na contratação. Isso por João Santana já ter sido condenado pelo recebimento de honorários por fora. O chamado “caixa 2”.
Justificar desvios através de contextualização histórica não é um bom caminho para a disputa política. É um dado da realidade que a prática de “caixa 2” era disseminado e modus operandi na política brasileira há muito. Também é história o alinhamento de parte da justiça brasileira com tendências políticas e interesses internacionais. Aplicaram “enforcement” de forma direcionada, deste modo, perseguindo atores pré-definidos. Entretanto, esse não é o melhor caminho para a construção do contraponto.
Quem critica a contratação de um dos melhores publicitários do planeta não está questionando suas qualidades profissionais. Por detrás, esconde-se um valor medieval, aquele da condenação perpétua. Ora, João Santana já respondeu à justiça. Trata o assunto de forma aberta e cristalina. Qual o problema de voltar ao trabalho?
Está na “Carta Cidadã” em seu artigo 5º:
XLVII – não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis.
No fundo, o questionamento está alicerçado em valores medievais como penas perpétuas e de banimento. Não é esse modelo de sociedade que Ciro Gomes e a tradição de seu partido advoga.
Em entrevista nos idos de 2012 Ciro ilumina o argumento ao afirmar:
“No padrão civilizatório que eu cultivo, ninguém é condenado eternamente”.
A contratação de João Santana foi um gol de placa de Ciro/PDT e traz o simbolismo da mais profunda coerência histórica.